segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Análise de Marília de Dirceu Parte 1 - Lira XIV do autor Tomás Antônio Gonzaga


Lira XIV

"Minha bela Marília, tudo passa;

A sorte deste mundo é mal segura;

Se vem depois dos males a ventura,

Vem depois dos prazeres a desgraça.

Estão os mesmos Deuses

Sujeitos ao poder impio Fado:

Apolo já fugiu do Céu brilhante,

Já foi Pastor de gado.


A devorante mão da negra Morte

Acaba de roubar o bem, que temos;

Até na triste campa não podemos

Zombar do braço da inconstante sorte.

Qual fica no sepulcro,

Que seus avós ergueram, descansado;

Qual no campo, e lhe arranca os brancos ossos

Ferro do torto arado.


Ah! enquanto os Destinos impiedosos

Não voltam contra nós a face irada,

Façamos, sim façamos, doce amada,

Os nossos breves dias mais ditosos.

Um coração, que frouxo

A grata posse de seu bem difere,

A si, Marília, a si próprio rouba,

E a si próprio fere.


Ornemos nossas testas com as flores.

E façamos de feno um brando leito,

Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,

Gozemos do prazer de sãos Amores.

Sobre as nossas cabeças,

Sem que o possam deter, o tempo corre;

E para nós o tempo, que se passa,

Também, Marília, morre.


Com os anos, Marília, o gosto falta,

E se entorpece o corpo já cansado;

triste o velho cordeiro está deitado,

e o leve filho sempre alegre salta.

A mesma formosura

É dote, que só goza a mocidade:

Rugam-se as faces, o cabelo alveja,

Mal chega a longa idade.


Que havemos de esperar, Marília bela?

Que vão passando os florescentes dias?

As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;

E pode enfim mudar-se a nossa estrela.

Ah! Não, minha Marília,

Aproveite-se o tempo, antes que faça

O estrago de roubar ao corpo as forças

E ao semblante a graça."

                                                           -Tomás Antônio Gonzaga

Percebo que nesta lira, o autor traz uma atitude típica de "Carpe diem" (Aproveite o dia). Ele propõe à amada que esta aproveite cada segundo de seu precioso tempo, antes que a beleza de sua mocidade se vá e que o tempo leve consigo sua formosura e, consequentemente, suas forças. Podemos incluir essa visão nos dias atuais nas nossas vidas de modo que busquemos aproveitar nosso tempo de forma mais sábia e proveitosa dando mais valor às coisas simples e verdadeiramente importantes da vida. Em suma, percebemos que o autor nos instiga a fazer uma reflexão necessária e singular à nossa realidade.

Referência: http://www.triplov.com/poesia/Tomas_Antonio_Gonzaga/Marilia_de_Dirceu/Marilia1/Lira_14.htm

                                                         - Allayne Souza

11 comentários:

  1. No arcadismo é comum utilizar o bucolismo, que refere-se a vida simples e pastoril, que pode-se observar na quarta estrofe. Como a Allayne já destacou, está parte da lira refere-se a apologia da mocidade e faz um alerta ao passar do tempo, que podemos com certeza atribuir ao nosso dia a dia, fazendo uma reflexão no qual diz para que nós possamos aproveitar de uma forma mais sábia e prazerosa a nossa vida.

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  2. Esta é uma das mais significativas liras de Gonzaga: além de ser uma apologia da mocidade, é também um alerta quanto ao passar do tempo (tema já bastante explorado pela estética barroca). Observa-se que os versos são decassílabos, com exceção do quinto e oitavo de cada estrofe. As rimas são opostas e alteradas.
    o Arcadismo é conhecido por ser um movimento que exalta a natureza e a vida bucólica.
    É nítido uma das características do arcadismo: a Exaltação ao homem puro, que nada mais consiste em que os árcades se preocupavam muito com a essência natural do homem e buscavam inspiração nas pessoas que tinham uma relação perfeita com a natureza, ou seja, os indivíduos que mais se aproximavam eram pré-históricos. Exaltavam a pureza, a beleza e a ingenuidade do homem primitivo que ainda não fora corrompido pelos padrões sociais.
    A linguagem é clara, Allayne foi muito feliz com a escolha da Lira, mostrou entendimento sobre o arcadismo, fez uma excelente análise. Está de parabéns!!

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  3. Umas das características do arcadismo são o estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos e a exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza e é observável nesse poema, como no trecho:
    " Aproveite-se o tempo, antes que o faça
    O estrago de roubar ao corpo as forças
    E ao semblante a graça"

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  4. Uma característica bem presente no arcadismo, como dito por Layanne, é a busca pela vida simples, pela vida pastoril.
    O autor, nesta lira, refere-se às coisas simples da vida, e nos diz para observarmos as coisas simples, coisas do dia a dia que nós não percebemos.

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  5. Não consegui entender muito o texto, mas o que entendi, foi que o autor destaca uma vida simples e pastoril oque é uma das características do arcadismo, além disso podemos observar a grande admiração do autor por sua amada, e sua preocupação com seu bem-estar. Outras claras características que podemos observar no texto é a idealização da mulher amada ("Minha bela Marília"), linguagem simples ("Com os anos, Marília, o gosto falta"), entre outros. A análise de Allayne, foi muito bem construída e me ajudou a entender certas partes que sozinho não tinha conseguido entender.

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  6. Vocês começaram muito bem, pessoal.

    Gostaria que explicassem algumas coisas: Quem era Dirceu? Por que a Marília é conhecida como Marília de Dirceu? Quem é pastor: o eu-lírico ou o autor? Qual a relação do uso de pseudônimo com o fingimento poético?

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Nos próximos textos, gostaria que observassem se estes temas estão presentes:
    1- Fugere urbem
    2- Carpe diem
    3- Aurea mediocritas
    4- Locus amoenus
    5- Inutilia truncat

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  9. Ótima análise Allayne, justamente o que eu compreendi do texto, parabéns!

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